Além de enfrentar anos de bullying na escola, Charlotte Davis perde o pai e a melhor amiga, precisando então lidar com essa dor e com as consequências do Transtorno do Controle do Impulso - um distúrbio que leva as pessoas a se automutilarem. "Viver não é fácil". Quando o plano de saúde de sua mãe suspende seu tratamento numa clínica psiquiátrica - para onde foi após se cortar até quase ficar sem vida -, Charlotte Davis troca a gelada Minneapolis pela ensolarada Tucson, no Arizona (EUA), na tentativa de superar seus medos e decepções. Apesar do esforço em acertar, nessa nova fase da vida ela acaba se envolvendo com uma série de tipos não muito inspiradores.
Cansada de se alimentar do sofrimento, a jovem se imbui de uma enorme força de vontade e decide viver e não mais sobreviver. Para fugir do círculo vicioso da dor, Charlotte usa seu talento para o desenho e foca em algo produtivo, embarcando de cabeça no mundo das artes. Esse é o caminho que ela traça em busca da cura para as feridas deixadas por suas perdas e os cortes profundos e reais que imprimiu em seu corpo.
Jovem Adulto | 384 Páginas | Cortesia Planeta de Livros | Skoob | Classificação: 5/5
"O corte é uma cerca que você constrói no próprio corpo para manter as pessoas do lado de fora, mas depois você chora para ser tocado.Mas a cerca é de arame farpado."
O livro contará a história de Charlotte Davis. O livro começa com a mesma sendo encontrada na porta de um hospital, quase morta devido aos ferimentos que cobria todo o corpo da garota. Ela é enviada para uma clinica psiquiátrica especializada, para receber tratamento. Lá, Charlie conhece meninas, que assim como ela se cortem, se queima, se ferem de alguma forma. Antes dos acontecimentos que levaram a jovem a se cortar a ponto de desejar estar morta, ela já se feria... muito.
Depois de alguns meses na reabilitação, convivendo com as meninas que faziam o mesmo tratamento, participando das sessões em grupo e de artesanatos, Charlie é informada que precisará voltar para casa, para morar com sua mãe. O plano de saúde que pagava seu tratamento na clínica não estava mais cobrindo as despesas dela naquele lugar. Quando recebe a notícia, ela não consegue ficar bem, ela não queria ter de sair dali, onde ela estava segura. Ela pede a ajuda de um amigo, pedindo a ele que a salve. E, é isso que ele de certo modo faz. Ele oferece a Charlie uma chance de recomeçar. Quando sai da clínica, a garota parte para uma nova cidade, para uma nova vida. Mas como fazer isso se ela ainda se sente completamente sozinha, tendo que enfrentar seu medo de fracassar, de cair novamente no buraco que estava antes. Na nova cidade, Charlie começa a trabalhar para pagar o aluguel e se sustentar. No novo emprego, ela conhece Riley, um cara que tem uma vida parecida com a dela: cheia de dor e desespero.
"Eu cortei todas as minhas palavras fora.Meu coração estava cheio demais delas."
Eu ainda não conhecia esta obra, mas confesso que fui surpreendida pela qualidade da escrita da autora e pela carga emocional que ela consegue transmitir com suas palavras. Eu me senti próxima da personagem, sofrendo ao ler o quanto a jovem sofreu, o quanto ela sente-se perdida, sem rumo, sem esperança.
(...) Ela diz que quando alguém nos machuca ou no faz sentir mal ou indigna ou imunda, em vez de dar o passo racional de aceitar que a pessoa é babaca ou maluca e que deve levar um tiro ou ser enforcada e que devemos ficar longe pra caralho dela, nós internalizamos a agressão e começamos a culpar e punir a nós mesmas.
Kathleen Glasgow soube narrar perfeitamente alguns dos nosso pensamentos quando estamos diante de uma situação em que não vemos saída, em um momento de desespero, onde tentamos encontrar formas de sobreviver em meio a tantas dores e tanto sofrimento. Ela descreve toda a dor, toda a angustia que a personagem está sentindo, todo o desespero de uma pessoa que precisa de ajuda, mas não sabe a quem mais recorrer, ou não acha que pedindo ajuda resolveria alguma coisa. Quantos jovens como Charlie existem por aí, desesperados por ajuda, por alguém que os ouça?, que os compreenda? Quantos jovens na mesma posição que ela, sem poder contar com os pais, ou sendo vítimas dessas pessoas; pessoas que deveriam protegê-las. Muitos jovens estão por aí, precisando que alguém estenda uma mão amiga, sem julgamentos, sem preconceitos.
(...) Porque, quando você está machucada e alguém ama você, esse alguém devia ajudar, né? (...)
Mesmo lendo, não conseguimos imaginar a dor de Charlie , somente quem já passou pelo o que ela passou, quem já sofreu, ou sofre como ela sabe do que está sendo falado no livro. Quem está de fora não consegue sequer imaginar estar na pela da personagem. Não podemos supor o que faríamos. Será que conseguiríamos ser fortes? Será que enfrentaríamos nossos demônios ou deixaríamos eles nos derrotarem?
"Eu me corto porque não consigo lidar com as coisas. É simples assim. O mundo se torna uma oceano, o oceano cai em cima de mim, o som da água é ensurdecedor, a água afora meu coração, meu pânico fica do tamanho do mundo. Preciso de liberação, preciso me machucar mais do que o mundo pode me machucar. Só assim posso me reconfortar.
Mais um livro que leio que me pega e me tira do chão. Mais um romance que fala sobre como existem pessoa que estão sofrendo, que muitas vezes passamos por essas pessoas e não imaginamos o que cada uma está passando em casa, na escola, no trabalho; se estão sendo vítimas de abusos, maus-tratos, preconceitos, bullying, etc. Garota em Pedaços é mais um livro para ficar gravado na memória. É um livro que emociona, choca, nos faz pensar, pensar e pensar. RECOMENDO!!
Obs: No final do livro, a autora fala um pouco sobre automutilação, e detalhes pessoais da autora. Tem também nomes, endereços e telefones de lugares onde pessoas como Charlie podem obter ajuda.
Abaixo um vídeo que na minha opinião, é perfeito para acompanhar a resenha:
Comentários
Postar um comentário