Resenha | Vox - Christina Dalcher


Uma distopia atual, próxima dos dias de hoje, sobre empoderamento e luta feminina.
O SILÊNCIO PODE SER ENSURDECEDOR #100 PALAVRAS
O governo decreta que as mulheres só podem falar 100 palavras por dia. A Dra. Jean McClellan está em negação. Ela não acredita que isso esteja acontecendo de verdade.
Esse é só o começo...
Em pouco tempo, as mulheres também são impedidas de trabalhar e os professores não ensinam mais as meninas a ler e escrever. Antes, cada pessoa falava em média 16 mil palavras por dia, mas agora as mulheres só têm 100 palavras para se fazer ouvir.
...mas não é o fim.
Lutando por si mesma, sua filha e todas as mulheres silenciadas, Jean vai reivindicar sua voz.

Distopia | 320 Páginas | Christina Dalcher | Cortesia Editora Arqueiro | Série Vox #1Sbook | Classificação: 5/5 | Compre: Amazon 


“O que nossas meninas estudam agora? Um pouco de soma e subtração, ver as horas, saber contar o troco. Contar, claro. Devem aprender a contar primeiro. Até cem.”

Vox chamou minha atenção assim que ouvi sobre ele no encontro da Editora Arqueiro durante a Bienal do Livro do ano passado. As várias semelhanças com o nosso cenário atual, me deixou intrigada e muito curiosa para conferir esta distopia. Ambientada num futuro próximo, o livro aborda sobre a opressão às mulheres. Um livro que combina muito bem com o que estamos vivendo atualmente.  

“Aprendi outras coisas nesse último ano. Aprendi como é difícil escrever uma carta para meu congressista sem ter uma caneta, ou postar uma carta sem ter selo. Aprendi como é fácil para o vendedor da papelaria dizer “sinto muito, senhora, não posso vender isso para você”, ou para o trabalhador dos correios balançar a cabeça quando uma pessoa do cromossomo Y pede selos. (...)”


Tudo começa após as eleições para presidente dos EUA. Os discursos extremistas não eram levados a sério, até que tudo mudou, principalmente para as mulheres. Obrigadas a falar apenas 100 palavras por dia (imaginem isso?), as mulheres não podiam mais trabalhar fora de casa, os estudos não eram mais os mesmos, os passaportes de cada uma eram confiscados; as mulheres não podiam mais ter contas em bancos, todo seu dinheiro ficaria na conta do marido. Sua obediência deveria ser a seus maridos e sua função era cuidar da casa, do marido e dos filhos. Suas obrigações consistiam em fazer as compras da casa, cozinhar e se dedicarem a família. É nesse cenário que vive a Dra. Jean McClellan, uma neurolinguista que é convocada pelo governo para trabalhar num experimento secreto. É nesse trabalho que Jean vê a chance de lutar pela sua liberdade e a de muitas outas que não podem lutar por si próprias.

Iniciei a leitura de Vox bem tarde da noite, e não consegui mais para de ler. A primeira coisa que digo sobre o livro é que ele despertará em você diversas sensações: raiva é a principal delas. É revoltante ler sobre algo considerado uma ficção, mas que ficamos imaginando como seria se acontecesse agora, na nossa sociedade. Quando a protagonista começa a contar como tudo começou, é impossível não pensar na nossa realidade atual. Os discursos, os pensamentos e toda a propaganda são bem semelhantes as que vemos nas ultimas eleições; não somente no Brasil, mas em outros países também. Este foi um dos pontos mais altos do livro: a forma como a autora usou a nossa sociedade como base para escrever este livro.   

“Mais adiante, o capítulo 27 começava com esta máxima do livro de Tito: “Sejam capazes de ensinar o que é bom. Assim, poderão orientar as mulheres mais jovens a ser moderadas, a amar os maridos e os filhos, a ser discretas, castas, dedicadas ao lar, bondosas e a obedecerem aos maridos.” (...)”


Como o livro é narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista da Jean, é ainda mais revoltante e angustiante a leitura. Não é difícil nos colocar na pele da personagem e sentir o que ela está sentindo. Ver a forma como os filhos dela enxergam a própria mãe, dá muita raiva. A forma como Jean precisa escolher as palavras, como ela não pode perguntar a seus filhos como foi a escola, porque pode correr o risco de ultrapassar o limite de palavras. Vemos como ela precisa reprimir a vontade de falar o que quiser, de xingar. Jean se sente culpada pelo o que está acontecendo. Ela vai relembrando de quando sua amiga Jackie a alertava sobre as mudanças que viriam, sobre quando essa amiga a chamava para as manifestações e passeatas e ela não se importava com nada disso. E não é somente as mulheres que são oprimidas, qualquer pessoa que não siga as regras impostas pelo governo são julgadas, humilhadas e presas por algo que eles consideram indignos.

“– você mataria? – Perguntou. (...) – Sim. A cozinha, quente e abafada, esfria. Então ele completa: – Mas você sabe que não precisamos. – Exatamente. Só precisamos tirar as vozes deles.”


Minha única crítica ao livro foi sobre seu final. Depois de toda a história, depois de tudo o que li, esperava algo mais grandioso, uma reviravolta emocionante. Infelizmente, os acontecimentos finais foram acontecendo de forma muito rápida. Eu queria que a Christina Dalcher tivesse trabalhado um pouco mais nas resoluções. Eu não me importaria se o livro tivesse um pouco mais de páginas, contanto que tudo não acontecesse de forma tão repentina. Esta foi minha única critica, de resto eu amei o livro.  

Em suma, Vox é uma leitura que agradará a muitas pessoas por abordar assuntos necessários. É uma leitura para se refletir. Após lê-lo, você passará a questionar muitas coisas que estão acontecendo a sua volta e, que talvez, você não prestasse muita atenção.











Comentários

back to top