[RESENHA] Fahrenheit 451 - Ray Bradbury


Imagine uma época em que os livros configurem uma ameaça ao sistema, uma sociedade onde eles são proibidos. Para exterminá-los, basta chamar os bombeiros - profissionais que outrora se dedicavam à extinção de incêndios, mas que agora são os responsáveis pela manutenção da ordem, queimando publicações e impedindo que o conhecimento se dissemine como praga. Para coroar a alienação em que vive essa nova sociedade, as casas são dotadas de televisores que ocupam paredes inteiras de cômodos, e exibem "famílias" com as quais se pode dialogar, como se estas fossem de fatos reais.
Este é o cenário em que vive Guy Montag, bombeiro que atravessa séria crise ideológica. Sua esposa passa o dia entretida com seus "parentes televisivos", enquanto ele trabalha arduamente. Sua vida vazia é transformada quando ele conhece a vizinha Clarisse, uma adolescente que reflete sobre o mundo à sua volta e que o instiga a fazer o mesmo. O sumiço misterioso de Clarisse leva Montag a se rebelar contra a política estabelecida, e ele passa a esconder livros em sua própria casa. Denunciado por sua ousadia, é obrigado a mudar de tática e a buscar aliados na luta pela preservação do pensamento e da memória.
Um clássico de Ray Bradbury, "Fahrenheit 451" é não só uma crítica à repressão política mas também à superficialidade da era da imagem, sintomática do século XX e que ainda parece não esmorecer.

Distopia | 215 Páginas | Editora Biblioteca Azul | Skoob | Compre:  Submarino  •  Lojas Americanas  •  Livraria Cultura | Classificação: 5/5 

“Lembre-se, os bombeiros raramente são necessários. O próprio público deixou de ler por decisão própria.”

Imagine uma sociedade, onde a função dos bombeiros - que antes era apagar incêndios -, agora fosse atear fogo. Porém, atear fogo em um objeto específico: os livros. No mundo criado por Ray Bradbury, possuir livros é considerado crime. Quem tem um objeto desses em casa é denunciado e seus livros são queimados, sua biblioteca é queimada. Você, leitor pode pensar que trata-se de um livro futurista, que o cenário é bem diferente do que estamos vivendo, mas prestando muita atenção ao que o autor descreve, você percebe que não estamos falando de um futuro tão distante assim. Nesse mundo, as casas são a prova de fogo, as pessoas vivem isoladas, alienadas, não interagem mais, não conversam mais; as horas dos dias são passadas assistindo novelas, e na companhia das "famílias".  

"Um livro é uma arma carregada na casa vizinha"

 É nesse universo que conhecemos Guy Montag, um bombeiro. Ele, assim como seus colegas de trabalho, acredita na função que exerce. Para eles, os livros devem ser queimados; já que eles perturbam a felicidade e o pensamento. Mas, depois de tantos livros queimados, tantas experiências que teve nas casas denunciadas, Guypassa a questionar o que há de tão especial em um livro, porquê as pessoas são fascinadas por eles; qual o motivo que leva uma pessoa a infringir a lei só para ter um objeto desses em casa, qual o prazer em ter um livro. Todas essa dúvidas surgem em sua mente depois que o bombeiro conhece uma adolescente, sua vizinha, Clarisse. Uma tarde, voltando do trabalho, ele conhece essa menina diferente, que começa a conversar com ele, a lhe fazer perguntas, o que deixa Guy perdido e ao mesmo tempo  fascinado.

“— O que está havendo? — Montag raramente via uma casa tão iluminada.— Ah, minha mãe, meu pai e meu tio estão conversando. É como andar a pé, só que bem mais gostoso. Meu tio foi preso uma outra vez, eu lhe contei? Por andar a pé. Ah, nós somos diferentes mesmo.— Mas sobre o que vocês conversam?”

Depois de mais uma denuncia, Guy vai para atear fogo em todos os livros de uma senhora, chegando lá, a senhora não quer sair da casa e abandonar seus livro.  Guy não consegue compreender porquê uma pessoa faria isso. Por que uma pessoa perderia sua vida por um simples livro? A curiosidade de Guy é atiçada, fazendo com que ele roube um livro e o leve para casa.

— Ninguém mais presta atenção. Não posso falar com as paredes porque elas estão gritando para mim. Não posso falar com minha mulher; ela escuta as paredes. Eu só quero alguém para ouvir o que tenho a dizer. (...)

O livro é dividido em três partes, apresentando personagens fantásticos e muito interessantes. Um dos mais enigmáticos é o chefe dos bombeiros. Lendo, você percebe que ele sente prazer com o que faz, mas em contrapartida, ele é capaz de citar trechos de vários livros, de autores famosos; ele cita Shakespeare! Publicada em 1953, a história de Ray Bradbury parece não ser diferente do que estamos vivendo hoje. O autor faz uma clara crítica a alienação das pessoas, a censura, aos meios de comunicação em massa, aos espetáculos produzidos para entreter, mas que acaba prendendo a pessoa à uma tela. As pessoas que com o avanço da tecnologia, não sobrevivem mais sem os seus  Smartphones; que vivem presos a esse objeto, deixando de viver momento importantes. Usando uma frase usado pelo personagem no livro: "Fazia muito tempo que ele não olhava para o céu." Quanto tempo faz que as pessoas não olham, não enxergam o mundo com os próprios olhos?

“— A escolaridade é abreviada, a disciplina relaxada, as filosofias, as histórias e as línguas são abolidas, gramática e ortografia pouco a pouco negligenciadas, e, por fim, quase totalmente ignoradas. A vida é imediata, o emprego é o que conta, o prazer está por toda a parte depois do trabalho. Por que aprender alguma coisa além de apertar botões, acionar interruptores, ajustar parafusos e porcas?”

Obs: Essa edição, conta com um prefácio incrível que precisa ser lido antes de iniciar a leitura do livro. Vou deixar um pequeno trecho do prefácio para vocês:

"Pois enquanto Huxley e Orwell escreveram seus livros sob o impacto dos regimes totalitários (nazismo e stalinismo), Bradbury percebe o nascimento de uma forma mais sutil de totalitarismo: a indústria cultural, a sociedade de consumo e seu corolário ético - a moral do senso comum."






Comentários

back to top